quinta-feira, 28 de abril de 2011

Carta aos senhores da troika!

Caros senhores da troika

Começo por me apresentar, sou um daqueles que estão sempre na linha da frente quando se enfrenta a austeridade, já me cortaram no vencimento, em tudo o que era direitos e regalias, no vencimento, tudo isso apesar de não ter gasto acima das possibilidades, de nunca ter recebido subsídios, de nunca ter exercido quaisquer cargos com remunerações vantajosas e de sempre ter cumprido com as minhas obrigações fiscais.
Eu sei que têm recebido algumas cartas, pelo menos devem ter recebido as do Eduardo Catroga pois eu também a recebi através da comunicação social, muito provavelmente até as terei recebido antes dos senhores pois em Portugal o correio funciona assim, é como as peças dos processos de investigação criminal, chegam primeiro à Felícia Cabrita do que ao juiz. Mas duvido que essas cartas lhes tenham contado algumas coisas sobre este país, não vão os senhores lembrarem-se de lhes cortar a direito e não apenas aos do costume.
Não lhes devem ter dito, por exemplo, que neste país anda muita gente a fugir aos impostos graças aos truques legais que inventaram para serem os próprios a beneficiar. Dou-lhes um exemplo, imaginem que há um conhecido advogado da praça cujo grande escritório é património da sua fundação, desta forma quando os advogados pagam a renda não o fazem como seria de supor, em vez disso dão um donativo à fundação que depois é declarado para efeitos de IRS.
Imaginem os senhores, e espero que estejam sentados, andam por aí uns senhores com estatuto de economistas, provavelmente já terão ouvido os seus conselhos, que são pensionistas desde "tenra" idade e acumulam as pensões com vencimentos do Estado. Podem não acreditar, mas um dos mais ferrenhos defensores das vossas exigências recebe uma pensão de oito mil euros desde os quarenta e nove anos por ter trabalhado apenas seis anos. Não acreditam? Compreendo, parece impossível, mas a verdade é que se esse senhor viver até aos oitenta o país dar-lhe-á uma pensão durante trinta e um anos por conta de seis de descontos! Dantes, quem ia para a guerra recebia um pequeno bónus na idade de reforma, este viveu meia dúzia de anos num gabinete de luxo e vive o resto da vida à custa da riqueza do país e ainda se acha com autoridade moral para andar por aí a dar conselhos ao país.
Mas se acham que este país não é ilógico e, pior do que isso, mistura a falta de lógica com o oportunismo desabrido, perguntem a um tal Catroga que representa o PSD nas negociações mas mais parece o tutor do presidente do PSD designado pelo Presidente da República o que é isso de ter sido "contratado, por conveniência de serviço, em regime de contrato administrativo de provimento, para o exercício das funções de Professor Catedrático Convidado, a tempo parcial 0%”. Não acreditam que um senhor reformado da SAPEC é contratado a tempo 0%? Então sentem-se, fiquem a saber que foi contratado por um conselheiro económico do PSD com despacho de 26 de Maio de 2010 que produz efeitos a partir de ... 1 de Setembro de 2008. Acreditem, este país é mesmo de doidos, doidos mas não parvos. Já agora perguntem a esse senhor como se processou a privatização do BPA quando ele era ministro das Finanças, vão ficar a conhecer melhor este país e a perceber porque anda tanta gente a exigir privatizações, é o ver se te avias...
E o que se passa nas autarquias, meus caros senhores? Arranjam sociedades municipais para os autarcas aumentarem os rendimentos, alguns até conseguem acumular a responsabilidade como autarcas de grandes cidades coma gestão de grandes empresas municipais, como é o caso do autarca do Porto que também administra o Metro do Porto, e ainda aparece como a grande reserva moral da nação. E a propósito deste tenham cuidado com o que vos dizem sobre obras como o TGV, são contra quando estão em Lisboa e a favor quando regressam à terra. Vão ver como algumas autarquias gastam dinheiro e depois contem-me!
Estranharam tantas viaturas de luxo a circular pela capital? Não há razões para isso, com as assimetrias na distribuição de rendimento a pouca riqueza deste país dá para enriquecer alguns à grande e à francesa, criou-se em Portugal uma elite de proxenetas, gente que de manhã são advogados, à tarde políticos e à noite jornalistas. Servem-se do estatuto de advogados para encobrirem as suas acções de corrupção ou de gestão de influências, são políticos para criarem novas oportunidades de negócios para si próprios e armam-se em jornalistas para convencerem o povo a votarem naqueles que lhes asseguram novos negócios, tornando o poder refém dos seus interesses.
Pois é meus senhores, os grandes agregados económicos enganam muito, dizem que há uma alta carga fiscal mas alguns não pagam impostos, que a produtividade é baixa mas os que mais enriquecem são os que menos trabalham, que o país viveu acoima das suas possibilidades mas foi a elite de proxenetas que mais carros e outros bens de luxo importou, que a idade de reforma deve aumentar mas muitos deles são pensionistas do parlamento, do BdP e de outros esquemas montados para saquear o país. A grande mentira deste pobre país não está nas contas públicas, a grande mentira está no facto de serem os que mais contribuem para a riqueza deste país e que menos a partilham que são sempre acusados de terem gasto em demasia.
Por tudo isto e muito mais espero meus senhores que desta vez seja diferente, que não se deixem enganar e façam as elites de proxenetas pagar pelo que têm feito a este pobre país, obriguem-nos a rever as pensões como a do Cunha, ponham fim aos esquemas mafiosos das fundações privadas, obriguem-nos a extinguir os milhares de empresas municipais, fundações e outros esquemas montados para roubar o país, aumentem os impostos sobre os mais ricos, acabem com a zona franca da Madeira. É tempo de também serem eles a pagar.

Augusto H Santos

sábado, 2 de abril de 2011

Geração à-rasca!

A geração dos meus pais não foi uma geração à rasca. Foi uma geração com capacidade para se desenrascar. Numa terriola do Minho as condições de vida não eram as melhores. Mas o meu pai António não ficou de braços cruzados à espera do Estado ou de quem quer que fosse para se desenrascar. Veio para Lisboa, aos 14 anos, onde um seu irmão, um pouco mais velho, o Artur, já se encontrava. Mais tarde veio o Joaquim, o irmão mais novo. Apenas sabendo tratar da terra e do pastoreio, perdidos na grande e desconhecida Lisboa, lançaram-se à vida. Porque recusaram ser uma geração à rasca fizeram uma coisa muito simples. Foram trabalhar.. 
Não havia condições para fazerem o que sabiam e gostavam. Não ficaram à espera. Foram taberneiros. Foram carvoeiros. Fizeram milhares de bolas de carvão e serviram milhares de copos de vinho ao balcão. Foram simples empregados de tasca. Mas pouparam. E quando surgiu a oportunidade estabeleceram-se como comerciantes no ramo. Cada um à sua maneira foram-se desenrascando. Porque sempre assumiram as suas vidas pelas suas próprias mãos. Porque sempre acreditaram neles próprios. E nós, eu e os meus primos, nunca passámos por necessidades básicas. Nós, eu e os meus primos, sempre tivemos a possibilidade de acesso ao ensino e à formação como ferramentas para o futuro. Uns aproveitaram melhor, outros nem tanto, mas todos tiveram as condições que necessitaram. E é este o exemplo de vida que, ainda hoje, com 60 anos, me norteia e me conduz. 
Salvaguardadas as diferenças dos tempos mantenho este espírito. Não preciso das ajudas do Estado. Porque o meu pai e tios também não precisaram e desenrascaram-se. Não preciso das ajudas da família que também têm as suas próprias vidas. Não preciso das ajudas dos vizinhos e amigos. Porque o meu pai e tios também não precisaram e desenrascaram-se. Preciso de mim. Só de mim. E, por isso, não sou, nunca fui, de qualquer geração à rasca. Porque me desenrasco. Porque sempre me desenrasquei. 
O mal desta auto-intitulada geração à rasca é a incapacidade que revelam. Habituados, mal habituados, a terem tudo de mão beijada. Habituados, mal habituados, a não precisarem de lutar por nada porque tudo lhes foi sendo oferecido. Habituados, mal habituados, a pensarem que lhes bastaria um canudo de um qualquer curso dito superior para terem garantida a eterna e fácil prosperidade, sentem-se desiludidos. 
E a culpa desta desilusão é dos "papás" que os convenceram que a vida é um mar de rosas. Mas não é. É altura de aprenderem a ser humildes. É altura de fazerem opções. Podem ser "encanudados" de qualquer curso mas não encontram emprego "digno". Podem ser "encanudados" de qualquer curso mas não conseguem ganhar o dinheiro que possa sustentar, de imediato, a vida que os acostumaram a pensar ser facilmente conseguida.Experimentem dar tempo ao tempo, e entretanto, deitem a mão a qualquer coisa. Mexam-se. Trabalhem. Ganhem dinheiro. 
Na loja do Shopping. Porque não ? Aaaahhh porque é Doutor... Doutor em loja de Shopping não dá status social. Pois não. Mas dá algum dinheiro. E logo chegará o tempo em que irão encontrar o tal e ambicionado emprego "digno". O tal que dá status. 
O meu pai e tios fizeram bolas de carvão e venderam copos de vinho. Eu, que sou Informático, System Engineer, em alturas de aperto, vendi bolos, calças de ganga, trabalhei em cafés, etc. E garanto-vos que sou hoje muito melhor e mais reconhecido socialmente do que se sempre tivesse tido a papinha toda feita. 
Geração à rasca ? Vão trabalhar que isso passa. 
À rasca, mesmo à rasca, também já tenho estado. Mas vou à casa de banho e passa-me.
Por: Filipe Oliveira