segunda-feira, 20 de junho de 2011

Visita a um covil de ladrões!

A maioria dos portugueses considera o Estado como um covil de ladrões. Já aqui o disse mas agora vem mais a propósito. Isso é o ADN duma cultura sem consciência política. Mas, por «Estado», entende o elenco governativo. E não é por falta de instrução como, há 40 anos, os citadinos acusavam os meios populares. Até constatamos que, quanto mais instrução, mais cumplicidade com os corruptos e ladrões públicos. A instrução até serve de justificação para a corrupção.
Essa é a razão da forte abstenção eleitoral (mais de 41% a nível nacional, mais de 50% em certas regiões). A maioria não tem opções políticas; só se exprime para «pôr lá» um chefe. Os partidos pequenos (com quem até diz simpatizar) «não têm hipóteses» (não votam neles); enquanto os grandes «são todos iguais» e abstêm-se.(eleger os ladrões?). O Chefe do Estado disse solenemente (imagine-se!) que os abstencionistas «não terão autoridade para criticar as políticas públicas». Olhe que têm! Garantido pela Democracia. Ele é, aliás, um dos principais responsáveis pela abstenção crónica porque bateu o recorde de anos como primeiro-ministro (a abstenção começou com ele) e, agora, é o primeiro político do País. Quanto mais alto, mais responsável. Não acuse os pobres-diabos pelo descrédito do sistema.
Os governantes de Portugal sempre se notabilizaram por descobrir maneiras de «viver à custa». No passado era das colónias. Nos anos 60-80 foi das «remessas dos emigrantes»; depois, foi do ouro que Salazar tinha acumulado; depois passaram a viver da CEE, aceitando ser pagos para destruir a agricultura, as pescas e a indústria naval, genuínos meios de produção económica auto-subsistente. Até que os credores lhes cortaram as vazas. Hoje estão à rasca. Não sabem como pagar as suas extravagâncias públicas, as suas fachadas, os seus currículos de ministros e de autarcas presunçosos que «fizeram obra» à custa do alheio, literalmente, a crédito. Depois de 30 anos de regabofe, os credores fizeram-lhes, como se diz, o manguito («Queres fiado? Toma! Paga primeiro o que deves»). Ficaram sem crédito nas praças do mundo. Até se batem por governar às ordens dos credores estrangeiros. O povo que pague a crise.
Enquanto os estratos de agricultores, de pescadores e de artesãos familiares (que produziam em família) eram maioritários, esta complacência com o parasitismo de Estado era apanágio das classes urbanas, minoritárias. Com a ascensão daqueles estratos à «classe média» urbana, assalariada ou empresarial, passou a ser uma norma dominante, maioritária. Mas, apesar da instrução, por «dinheiros públicos» continua a entender-se «dinheiros de ninguém» ou, como no passado, «dinheiros da coroa» (dos usurários da realeza), portanto, susceptíveis de ser pilhados pelos «espertos». Com a anuência dos tribunais. O povoléu dum supermercado pode barrar a passagem a um ladrão de yogurtes mas bajula os ladrões dos «dinheiros públicos». Há, assim, continuidade nas mentalidades. Até podíamos dizer que houve mudança para pior, para a generalização dos valores maus.
O critério para o povo eleger um candidato pode ser a sua esperteza para roubar os bens públicos. Basta que ele se apresente escorreito e rodeado de uma cáfila de assessores. «Elas até correm para beijar quem lhes tirou o abono de família», ouvi de um reformado na Marinha Grande, referindo-se ao (abominável) Sócrates, um verdadeiro chefe de quadrilha (entenda-se por «quadrilha» o que se quiser) apoiado por uma massa de lorpas que tomam os críticos do sistema como incapazes para a trafulhice.
O Público de 5 de Junho publicou esta notícia: «Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, em 18 meses, fez 13 visitas a offshores para fazer acordos», levando consigo sucessivas e largas comitivas de gente que o governante não quis justificar. Eu, que sou leigo em Finanças (como Jesus Cristo, segundo Fernando Pessoa), não imaginava que um governo visitasse offshores que são os ladrões dos impostos... O que me veio à mente foi: «visita de Estado a um covil de ladrões». Que tipo de acordo faz o Governo com os ladrões de impostos? Visita de cortesia ou de negócios? As comitivas foram lá fazer o quê? Uma visita guiada? Ou foram abrir uma conta... na fonte?
É legítimo desconfiar de tudo com estes ministros do (abominável) Sócrates. Manuela Ferreira-Leite até disse que nem na oposição o quer ver. Mas vamos ver outros. Eles reproduzem-se como a sarna.
By Moisés Espírito Santo
In Jornal de Leiria