sábado, 15 de novembro de 2014

O credo político!

O comunista neoliberal

Por: Alexandre Homem Cristo

A conversão de Bernardino Soares à austeridade esclarece o equívoco sobre a contenção orçamental ser uma opção ideológica. Se um comunista governa tal neoliberal não há alternativa ao rigor orçamental
Loures é, hoje, uma espécie de Portugal dos pequenitos. Não é, de modo algum, depreciação. É mesmo elogio: de acordo com o que se lê na imprensa, perante grandes dificuldades financeiras, o executivo municipal tem levado a cabo um exigente compromisso de contenção orçamental. Um trabalho de igual mérito ao que o Governo do país reclama. Sugere-se, assim, a quem não tiver a paciência para seguir os debates nacionais sobre o Orçamento de Estado para 2015 (OE2015), que acompanhe a discussão política neste município da Grande Lisboa. As questões-chave são as mesmas. E as soluções austeras também. Apesar da diferença: é que se o país é governado pela coligação de direita, Loures é liderada por um comunista.
Mas as diferenças acabam aí. É, pelo menos, o que transparece no discurso com que Bernardino Soares, ex-líder parlamentar do PCP, assinalou o seu primeiro aniversário à frente da Câmara Municipal de Loures, onde recupera para si a argumentação do Governo. E até a oposição reage da mesma forma.
Bernardino Soares colocou a credibilidade no cimo das prioridades – “podemos dizer que há um ganho, que não se mede em euros, nem em estradas, nem em obras, mas que é a nossa maior conquista: a recuperação da credibilidade”. Orgulha-se de falar verdade – “ninguém duvida que estamos próximos das pessoas e lhes falamos verdade”. Aponta o dedo às dificuldades financeiras – “é evidente que este ano de mandato foi muito marcado pela difícil situação financeira – que de resto se continuará a fazer sentir nos próximos anos”. Acusa os socialistas de fazerem a ‘festa’ com os dinheiros públicos – “o executivo anterior fez a ‘festa’ e deixou cá a conta para pagar”. Cortou nas ‘gorduras’ orçamentais – “tomámos importantes medidas de racionalização da despesa, eliminando despesas supérfluas – por exemplo, nalgumas avenças e viagens –, procurando reduzir outras, designadamente de funcionamento”. E reconhece que não tem folga orçamental para fazer o que gostaria – “a dimensão do problema faz com que o município não tenha folga orçamental para dar resposta a investimentos essenciais”. A réplica da oposição (PS) é aquela que se ouve em todos os debates quinzenais na Assembleia da República: “a pretensa situação financeira do município serviu (…) de desculpa fácil, para pouco ou nada fazer neste primeiro ano de mandato”.
Não exageremos. É óbvio que o rigor orçamental de Bernardino Soares seguirá opções de aplicação diferentes das de Passos Coelho. E é evidente que algumas dessas opções relevam do que os distingue ideologicamente. Mas qual é a margem para que essas diferenças sejam mesmo significativas? Muito pouca. Afinal, quando não há dinheiro, não há dinheiro. E não pode ser só coincidência que o discurso de Bernardino pareça plagiado de qualquer um de Passos Coelho, Paulo Portas ou até Vítor Gaspar.
É por isso mesmo que a conversão de Bernardino Soares à chamada ‘austeridade’ é duplamente interessante. Primeiro, ela esclarece um grande equívoco: o de quem acha que a contenção orçamental é uma opção ideológica. Não é. É uma imposição da realidade. E a palavra não é aleatória, porque é precisamente essa a tecla em que tanto se carrega: em 3 anos de legislatura, os cortes orçamentais valeram a Passos Coelho dezenas de diagnósticos de irrealismo. Será também Bernardino um irrealista?
Provavelmente, não. E aí está o segundo motivo de interesse. A governação de Bernardino em Loures é a prova definitiva do grande impasse político em que vivemos: se até um comunista tem de governar como um neoliberal, não há mesmo alternativa ao rigor orçamental. Ou seja, não há mesmo espaço para divergências políticas, para promessas ou para combates ideológicos. Na oposição, cada um que diga o que quiser. Mas, no poder, comunistas, socialistas e sociais-democratas, todos serão “neoliberais” enquanto tiverem contas por pagar.
No fundo, é isto: depois da ‘festa’ vem sempre o rigor orçamental. Governe quem governar. Bernardino está aí para o demonstrar. Não admira, pois, que António Costa ande tão calado.

terça-feira, 24 de junho de 2014

As crenças e o culto da imagem!

O que fará com que um homem como o Pacheco Pereira, em tempos filiado no PCP, milite nas fileiras do PSD e esteja de acordo com as políticas postas em prática por este partido na actualidade?
Quem souber que responda, pois eu não faço a mínima ideia.
Pelo contrário, entendo a viragem feita pelo Durão Barroso que na sua juventude foi militante do MRPP e agora é dos sociais-democratas mais direitista que eu conheço. Era moda ser comunista, ou de esquerda, enquanto durava a vida de estudante de qualquer jovem português da idade deste nosso político e actual líder da Comissão Europeia.
O Pacheco Pereira é formado em Filosofia, a tal ciência que dá a cada um o direito de ser como é e dizer o que lhe apetece sem que lhe possam apontar o dedo. Um conceito filosófico é único na cabeça de cada um, tal como como cada pessoa é diversa de todas as outras que habitam o planeta.
Karl Marx também era filósofo, o maior de todos, segundo alguns críticos da especialidade e deixou um vasto legado de obras sobre o assunto. Mas esse foi comunista desde pequenino e assim teve a coragem de se manter até à hora da sua morte. Mais comunista nas suas teorias do que na vida prática, conforme é apontado por alguns críticos da sua vida e obra.
Cada vez que me esbarro com a imagem de Pacheco Pereira, seja na televisão ou nos jornais (pessoalmente nunca me cruzei com ele nem faço questão que isso venha a acontecer), fico a pensar se o homem não terá uma panca pelo velho comunista Karl Marx. É que existe uma certa parecença entre eles e o cuidado que ele põe na barba e cabelo leva-me a pensar que ele deseja que nós, aqueles em cima de quem descarrega as suas teses filosóficas, o relacionemos com o outro.
Isto, se calhar, sou eu que não tenho nada mais importante em que pensar, mas também me assiste o direito de expressar os conceitos e ideias por que se rege a minha vida. A Filosofia é isso mesmo. Em conclusão, são tão filósofo como eles os dois! 

sábado, 7 de junho de 2014

Mais vale prevenir!


A Harvard School of Public Health acabou de lançar uma bomba no campo da nutrição, ao retirar da pirâmide alimentar os lacticínios e os seus derivados.
A equipa de investigação de Harvard está a estudar uma alimentação sã, livre dos lobbies da industria alimentar.
O motivo pelo qual decidiram limitar os lacticínios prende-se pelo facto de que o consumo de lacticínios e derivados pode aumentar significativamente o risco de cancro de próstata e de ovários.
A investigação conduzida por Harvard conclui que a gordura saturada que se encontra nos lacticínios e os componentes químicos que são utilizados durante a sua produção, tornam-nos num alimento de alto risco.
Os lacticínios podem ser substituídos por legumes de folha verde, soja enriquecida e grãos de várias espécies, para substituir o cálcio.
Este artigo levanta várias questões, uma das quais coloca em causa a ideia que se tinha de que apenas o leite e os seus derivados nos poderiam fornecer o cálcio e que deviam assim, fazer parte da alimentação.
Apesar de limitarem os lacticínios, mantiveram outros derivados animais e apesar de não apresentarem formas vegetais de proteína, sabemos que os legumes como os brócolos e os grãos contêm muita proteína. Conseguimos retirar o cálcio e a proteína que necessitamos sem utilizar lacticínios.
Vamos aguardar para saber que mais alternativas “livres de crueldade animal” nos chegam de Harvard.
Para quem pretende abdicar do leite animal, existem no mercado opções para fazer em casa o próprio leite 100% vegetal, natural e saudável, sem as hormonas, antibióticos e químicos que são usados muitas vezes pela indústria de produção do leite, quer animal mas também vegetal, pois nem todos os leites vegetais que existem no mercado são 100% naturais e muitos deles sofrem um processo de transformação que lhes tira toda a pureza e riqueza alimentar que o leite feito por si, em sua casa, lhe pode oferecer.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Eu não acuso ninguém!

Recebi esta foto por e.mail e sendo um assunto de grande interesse nacional, por contar para a História de Portugal, limito-me a deixá-la aqui com uma pergunta que dirijo a quem me souber responder.


Será genuíno este documento de identidade, ou trata-se de uma montagem para denegrir a imagem do nosso PR?
Agradeço aos comentadores que sejam claros e exactos naquilo que decidirem partilhar com os visitantes deste blog, pois o assunto é sério.

domingo, 27 de abril de 2014

Números negros!

Pobres em Portugal: 3 milhões de pessoas.
Desempregados: 1.300.000 indivíduos.
População ativa em Portugal: 5.587.300 indivíduos.
População Prisional: 12.681 reclusos.
Emigrantes Portugueses (até à 3.ª geração): 31,2 milhões pelo mundo fora.
Crianças portuguesas com fome assinalados nas escolas: 12 mil.
Portugueses com fome: 300 mil.
Idosos na solidão: 23 mil idosos a viverem sozinhos ou na solidão (Censo da GNR).
Portugueses sem Médico de família: 700 mil pessoas.
Pessoas sem-abrigo: 3.500.
Pessoas sem água canalizada ou esgotos ao domicílio: 700 mil.
Preços Combustíveis: dos mais altos da Europa e do mundo, Gasolina €1,53, Gasóleo € 1,39
Remunerações dos conselhos de administração das 20 empresas portuguesas cotadas na Bolsa quintuplicaram entre 2000 e 2012. Paralelamente, os gestores das empresas portuguesas ganham, em média, cerca de 30 vezes mais do que os trabalhadores das empresas que administram.
As 100 maiores fortunas de Portugal valem 32 mil milhões de euros, o que corresponde a 20% da riqueza total nacional.
PIB Portugal em 2012: 165 mil milhões de euros (contracção de 3,2% em relação a 2011)
Crescimento do PIB de 2000 a 2012: (segundo estudos do FMI) o PIB de Portugal cresceu apenas 1,97%.
25,4% (3.7 milhões) dos habitantes em Portugal vivem com menos de 414 euros por mês, ou sejam são os considerados oficialmente (!) como pobres.
41% dos portugueses vivem em privação material, (dificuldade, por exemplo, em pagar as rendas sem atraso, manter a casa aquecida ou fazer uma refeição de carne ou de peixe pelo menos de dois em dois dias).
14,5% por cento dos portugueses vivem em casas sobrelotadas.
População portuguesa abaixo do índice de pobreza: 20% - 2 milhões de pobres, sendo que 1/3 são reformados, 22% são trabalhadores remunerados e 21,2% são trabalhadores por conta própria.
5% da população portuguesa (530 mil pessoas) sofre sérias perturbações no acesso a alimentos.
Défice do Estado Português em 2012: 6,4% do PIB, ou seja 10,6 mil milhões de euros.
25% das crianças portuguesas que entram na escola (375 mil) vêm de famílias onde a pobreza é extrema.
Orçamento da Assembleia da República para 2013: 65 milhões 18 mil 783 euros.
Subsídios aos Partidos Políticos: 64 milhões 195 mil 300 €. (mais 56% do que em 2012)
Orçamento da Presidência da República Portuguesa para 2013: 16 milhões 272 mil 380 € (-0,84% do que em 2012). O Orçamento da Presidência da República portuguesa continua a ser assim superior em dobro ao da Casa Real espanhola que, em 2012, dispôs de um total de 8.264 mil euros, implicando uma redução de 2% relativamente ao ano anterior
Dívida Pública Portuguesa: Dívida total (fim de Março de 2013) : 199.676.349.188€ (123,6% do PIB). Em 1974 eram de 10 mil milhões, correspondendo a 20% do PIB, ou seja, em 39 anos a dívida foi multiplicada por 20 vezes mais.
Juros anuais da dívida pública portuguesa: Segundo o INE, em 2010, os juros da Divida Pública atingiram 6.849 milhões no final de 2012.
Reservas de Ouro do Banco de Portugal: 382.509,58 kg. Em 1974 eram de 865.936, ou seja, em 39 anos desapareceram 483.426,42 kg de ouro o que dá uma média de 13.428,5 kg por ano.
Dívida externa Portuguesa em Fevereiro de 2013: 734,3 mil milhões de Euros (cada Português deve € 69.300,00 ao estrangeiro).
Em 2012, cada cidadão pagou só de juros da dívida pública 754 euros o que, no conjunto, equivale a 4,4 por cento do PIB
Défice da balança comercial portuguesa de transacções em Fevereiro de 2013:2.23 mil milhões de Euros.
Beneficiários do Rendimento Social de Inserção: 274.937 pessoas.
Salários dos principais gestores públicos em 2010: Presidente da TAP (Fernando Pinto) € 624.422,21 (igual a 55,7 anos de salário médio anual de cada português), o Presidente da CGD (Faria de Oliveira) recebeu € 560.012,80 (igual a 50 anos de salário médio anual de cada português) e o seu Vice-Presidente (Francisco Bandeira) recebeu € 558.891,00, Salário anual do Governador do Banco de Portugal 243 mil Euros, Salário anual do presidente da Anacom 234 mil Euros.
Despesa total do Estado com reformas de ex-políticos e ex-governantes em 2010: 280 milhões de euros, passando a serem secretos, portanto desconhecidos os números reais desde então, por ordem do Governo e da Assembleia da República.
Toxicodependentes: 50 mil toxicodependentes em tratamento.
Criminalidade em 2012: 385.927 crimes, 22.270 crimes violentos e graves, 419 sequestros, 149 homicídios, raptos e roubos.
Portadores de HIV: 41.035
Prostitutas e pessoas ligadas ao sexo: mais de 30.000.
Electricidade 61% mais cara que a média da OCDE. Média da OCDE = 0,12 KVW, Portugal = € 0,16 KVW, Grécia = € 0,10 KVW, Espanha = € 0,14 KVW.
Petróleo Doméstico mais caro da Europa: Tonelada métrica em Portugal = € 386,00; Média da OCDE = € 333,00.
Gasolina com carga fiscal mais elevada da Europa, com 64% de impostos.
Gás natural mais caro da Europa = € 713,00; Média OCDE = € 580,00 Kcal; Grécia = € 333,00 Kcal.
Analfabetismo em Portugal, o mais elevado de toda a Europa: 7,5%.

segunda-feira, 31 de março de 2014

Toma e embrulha!

Carta Aberta a José Gomes Ferreira

Caro José Gomes Ferreira

Confesso a minha surpresa pelo teor da sua carta “A Uma geração Errada”, na medida a que me habituei a posições suas muito reflectidas e geralmente ajustadas às circunstâncias. Neste caso, lamento dizer que seu texto é um mau serviço prestado aos portugueses que passam fome, além de profundamente injusto, porque reabre o conflito de gerações que o actual Governo tem promovido e que não esperava que o JGF subscrevesse.
O texto é injusto ao colocar os problemas do País no plano geracional porque, como deve saber, foram as novas gerações que estiveram amplamente representadas nos diferentes governos que endividaram o País e são ainda as novas gerações que nos continuam a endividar no actual Governo. Contrariamente, são as velhas gerações, que durante muitas dezenas de anos sustentaram a Segurança Social e o Estado Social, que estão agora a sofrer os cortes nos seus rendimentos levados a cabo pela geração do actual Primeiro Ministro.
Portanto, não subscrevo a sua tese e a do actual Governo, criadora de um conflito de gerações, que é um falso problema, mas já que a sua carta vai por aí não posso deixar de lhe chamar a atenção para a visão distorcida e de via única que a sua carta comporta. Até porque foram alguns dos mais velhos, nos quais me incluo, que protestaram por todos os meios, nomeadamente no seu programa, contra os erros, desmandos e autoritarismo dos governos, em particular dos governos de José Sócrates, quando a parte de leão do endividamento do Estado foi criada, como muito bem sabe. Por isso, pessoalmente, não posso aceitar as suas injustas considerações, até porque desde os governos de António Guterres que protesto contra a ausência de uma estratégia de crescimento económico e contra as chamadas políticas do betão criadoras de despesismo a favor dos sectores da construção e obras públicas, da especulação imobiliária, das telecomunicações, dos rendeiros da energia e da resultante corrupção para que o Pais foi conduzido. Aliás, as fortunas que resultaram do monstro da corrupção estão maioritariamente, como espero que saiba, nos bolsos de outras gerações que não da minha geração. Pessoalmente descontei para a Segurança Social durante 59 anos para ter uma reforma milionária de 4500 euros, sujeita, como todas as outras, a cortes indiscriminados.
O segundo erro, que não esperava de si devido às denúncias que tem feito como jornalista, reside em considerar que os subscritores do Manifesto, como os portugueses em geral, não têm o direito de procurar e debater novas soluções para Portugal, para além da vil tristeza e da miséria para que estamos passivamente a ser conduzidos como um rebanho sem ideias, sem alternativa e já sem coragem. E a favor de quê, pergunto-lhe?
Pela sua carta o objectivo parece ser o de não melindrar os nossos credores internacionais, não fazer ondas e aceitar o que eles decidirem sem mesmo questionar se a União Europeia pode ou deve ter uma politica de sustentabilidade e de crescimento das economias dos diferentes países europeus. Nesse caso pergunto-lhe para que serve a democracia portuguesa e a democracia europeia se aos cidadãos europeus é vedada a procura de soluções alternativas? Pergunto-lhe também quem definiu o timing e a pretensa inoportunidade do Manifesto? Porquê então, após três anos de sermos os bons alunos das políticas germânicas, o endividamento continua a crescer e o desemprego, a fuga dos jovens e o empobrecimento das famílias portuguesas não pára e a fome cresce um pouco por todo o Pais? Tem o JGF alguma solução, para além de não fazermos nada?
Quanto a “deixar os jovens trabalhar” considero isso um insulto gratuito aos mais velhos que, com enormes dificuldades, lutam por manter os filhos e os netos à tona de água ou os ajudam a sobreviver através da emigração.
É fácil entretanto, haja Deus, estar de acordo consigo quanto aos estádios, ou sobre os negócios ruinosos do Estado: Swapps, BPN, BPP, parcerias público privadas, energia cara e produtores a enriquecer, regulação inexistente, empresas públicas ruinosas e privatizações feitas a feitio com os consultores interessados do costume, com garantia de empregos bem pagos em administrações faz de conta de políticos de várias gerações, em que a sua está bem representada. É para manter tudo isso que devemos continuar calados?
Pessoalmente, luto contra tudo isto há vinte anos e nunca pedi licença a ninguém para o fazer. Espero que compreenda que também não o faça agora devido ao Manifesto que, como cidadão livre, assinei e cuja iniciativa saúdo. Contra a demissão.

Com amizade
Henrique Neto

segunda-feira, 24 de março de 2014

Sem dó nem piedade!

Agora sol na rua a fim de me melhorar a disposição, me reconciliar com a vida. Passa uma senhora de saco de compras: não estamos assim tão mal, ainda compramos coisas, que injusto tanta queixa, tanto lamento. Isto é internacional, meu caro, internacional e nós, estúpidos, culpamos logo os governos. Quem nos dá este solzinho, quem é? E de graça. Eles a trabalharem para nós, a trabalharem, a trabalharem e a gente, mal agradecidos, protestamos. 
Deixam de ser ministros e a sua vida um horror, suportado em estoico silêncio. Veja-se, por exemplo, o senhor Mexia, o senhor Dias Loureiro, o senhor Jorge Coelho, coitados. Não há um único que não esteja na franja da miséria. Um único. Mais aqueles rapazes generosos, que, não sendo ministros, deram o litro pelo País e só por orgulho não estendem a mão à caridade.
O senhor Rui Pedro Soares, os senhores Penedos pai e filho, que isto da bondade as vezes é hereditário, dúzias deles.
Tenham o sentido da realidade, portugueses, sejam gratos, sejam honestos, reconheçam o que eles sofreram, o que sofrem. Uns sacrificados, uns Cristos, que pecado feio, a ingratidão.
O senhor Vale e Azevedo, outro santo, bem o exprimiu em Londres. O senhor Carlos Cruz, outro santo, bem o explicou em livros. 
E nós, por pura maldade, teimamos em não entender. Claro que há povos ainda piores do que o
nosso: os islandeses, por exemplo, que se atrevem a meter os beneméritos em tribunal. Pelo menos nesse ponto, vá lá, sobra-nos um resto de humanidade, de respeito. Um pozinho de consideração por almas eleitas, que Deus acolherá decerto, com especial ternura, na amplidão imensa do Seu seio. Já o estou a ver:
- Senta-te aqui ao meu lado ó Loureiro
- Senta-te aqui ao meu lado ó Duarte Lima
- Senta-te aqui ao meu lado ó Azevedo 
que é o mínimo que se pode fazer por esses Padres Américos, pela nossa interminável lista de bem-aventurados, banqueiros, coitadinhos, gestores, que o céu lhes dê saúde e boa sorte e demais penitentes de coração puro, espíritos de eleição, seguidores escrupulosos do Evangelho. E com abandeirinha nacional na lapela, os patriotas, e com a arraia miúda no coração. 
E melhoram-nos obrigando-nos a sacrifícios purificadores, aproximando-nos dos banquetes de bem-aventuranças da Eternidade. As empresas fecham, os desempregados aumentam, os impostos crescem, penhoram casas, automóveis, o ar que respiramos e a maltosa incapaz de enxergar a capacidade purificadora destas medidas.
Reformas ridículas, ordenados mínimos irrisórios, subsídios de cacaracá?
Talvez. Mas passaremos sem dificuldade o buraco da agulha enquanto os Loureiros todos abdicam, por amor ao próximo, de uma Eternidade feliz. A transcendência deste acto dá-me vontade de ajoelhar à sua frente. Dá-me vontade? Ajoelho à sua frente indigno de lhes desapertar as correias dos sapatos.
Vale e Azevedo para os Jerónimos, já!
Loureiro para o Panteão já!
Jorge Coelho para o Mosteiro de Alcobaça, já!
Sócrates para a Torre de Belém, já! A Torre de Belém não, que é tão feia, para a Batalha.
Fora com o Soldado Desconhecido, o Gama, o Herculano, as criaturas de pacotilha com que os livros de História nos enganaram. Que o Dia de Camões passe a chamar-se Dia de Armando Vara. Haja sentido das proporções, haja espírito de medida, haja respeito.
Estátuas equestres para todos, veneração nacional. Esta mania tacanha de perseguir o senhor Oliveira e Costa: libertem-no. Esta pouca vergonha contra os poucos que estão presos, os quase nenhuns que estão presos como provou o senhor Vale e Azevedo, como provou o senhor Carlos Cruz, hedionda perseguição pessoal com fins inconfessáveis. Admitam-no. E voltem a pôr o senhor Dias Loureiro no Conselho de Estado, de onde o obrigaram, por maldade e inveja, a sair.
Quero o senhor Mexia no Terreiro do Paço, no lugar do D. José que, aliás, era um pateta. Quero outro mártir qualquer, tanto faz, no lugar do Marquês de Pombal, esse tirano. Acabem com a pouca vergonha dos Sindicatos. Acabem com as manifestações, as greves, os protestos, por favor deixem de pecar.
Como pedia o doutor João das Regras, olhai, olhai bem, mas vê-de. E tereis mais fominha e, em consequência, mais Paraíso. Agradeçam este solzinho.
Agradeçam a Linha Branca.
Agradeçam a sopa e a peçazita de fruta do jantar.
Abaixo o Bem-Estar.
Vocês falam em crise mas as actrizes das telenovelas continuam a aumentar o peito: onde é que está a crise, então? Não gostam de olhar aquelas generosas abundâncias que uns violadores de sepulturas, com a alcunha de cirurgiões plásticos, vos oferecem ao olhinho guloso? Não comem carne mas podem comer lábios da grossura de bifes do lombo e transformar as caras das mulheres em tenebrosas máscaras de Carnaval.
Para isso já há dinheiro, não é? E vocês a queixarem-se sem vergonha, e vocês cartazes, cortejos, berros. Proíbam-se os lamentos injustos.
Não se vendem livros? Mentira. O senhor Rodrigo dos Santos vende e, enquanto vender o nível da nossa cultura ultrapassa, sem dificuldade, a Academia Francesa. Que queremos? Temos peitos, lábios, literatura e os ministros e os ex-ministros a tomarem conta disto. Sinceramente, sejamos justos, a que mais se pode aspirar?
O resto são coisas insignificantes: desemprego, preços a dispararem, não haver com que pagar ao médico e à farmácia, ninharias. Como é que ainda sobram criaturas com a desfaçatez de protestarem? Da mesma forma que os processos importantes em tribunal a indignação há-de, fatalmente, de prescrever. E, magrinhos, magrinhos mas com peitos de litro e beijando-nos uns aos outros com os bifes das bocas seremos, como é nossa obrigação, felizes.

António Lobo Antunes

terça-feira, 4 de março de 2014

Arrogância ditatorial!

  • É comparar a reforma de um deputado com a de uma viúva.
  • É um cidadão ter que descontar 35 anos para receber reforma e aos deputados bastarem somente 3 ou 6 anos conforme o caso e que aos membros do governo para cobrar a pensão máxima só precisam do Juramento de Posse.
  • É que os deputados sejam os únicos trabalhadores (???) deste país que estão isentos de 1/3 do seu salário em IRS.
  • É pôr na Administração milhares de Assessores (leia-se Amigalhaços) com salários que desejariam os técnicos mais qualificados.
  • É a enorme quantidade de dinheiro destinado a apoiar os partidos, aprovados pelos mesmos políticos que vivem deles.
  • É que a um político não se exija a mínima prova de capacidade para exercer o cargo (e não falamos em intelectual ou cultural).
  • É o custo que representa para os contribuintes a sua comida, carros oficiais, motoristas, viagens ( sempre em 1ª Classe), cartões de crédito. 
  • É que Suas Ex.as, tenham quase 5 meses de férias ao ano (48 dias no Natal, uns 17 na Semana Santa mesmo que muitos se declarem não religiosos, e uns 82 dias no Verão).
  • É que Suas Ex.as, quando cessam um cargo, mantenham 80% do salário durante 18 meses.
  • É que Ex-Ministros, Ex-Secretários de Estado e altos cargos da política quando cessam são os únicos cidadãos deste país que podem legalmente acumular 2 salários do Erário Público.
  • É que se utilizem os Meios de Comunicação Social para transmitir à sociedade que os Funcionários Públicos só representam encargos para os bolsos dos contribuintes.
  • É ter residência em Lisboa e cobrar Ajudas de Custo pela deslocação à capital porque dizem viver em outra cidade.